Eastan
Hoje tive acho que um dos pesadelos mais assustador de todos. Mas não sei se vou conseguir escrever ele com detalhes o suficiente para que possa entender o porquê que foi tão assustador pra mim. Na verdade, o pesadelo era autoconsciente na maior parte, eu sabia que estava sonhando, mas no inicio eu não sabia que estava num sonho.
A primeira memória que consigo me lembrar é de eu tocando violão no meu quarto. Lembro até do que tava tocando, uma variação de uma música dos Engenheiros do Hawaii. Mas o violão estava diferente, ele estava sem headstock (a parte que as cordas são amarradas). Aparentemente as cordas estavam entrelaçadas na parte de trás do braço com alguma gambiarra, mas eu não lembrava que eu tinha feito isso, achei estranho no sonho. Uma mulher loira me observava perto de uma porta de costas, como se sempre tivesse lá e fosse normal, mas eu não a conhecia. Acabo mexendo nessa parte de trás com as cordas amarradas e todas se soltam.
Logo em seguida, mãe me chama dizendo que meus amigos estão me esperando. Mas no sonho eu também tinha consciência que estou em outra cidade e que não tenho amigos que viriam na minha casa, em Sobral. Então vou lá com o violão quebrado e encontro dois amigos da cidade que vim, Breu Branco. Ronaldo e Rovenilson. Rovenilson percebeu logo que o violão estava quebrado e perguntou o que havia acontecido, então expliquei a ele que mexi nele porque não lembrava de ter tirado o headstock. Mas de forma direta eu pergunto: “Como vocês estão aqui? Essa cidade é muito longe para vocês casualmente me visitarem.”. Os dois respondem junto com minha mãe a palavra: “Diagrama”. Eu não entendo. Olhei pra ele com uma cara confusa enquanto tentava processar a ideia, foi então que percebi que aquilo não era real.
Fiquei um pouco surpreso com a naturalidade deles dizerem algo tão sem sentido e resolvi sair de perto. Quando saí e abri uma porta, entrei em um lugar totalmente diferente. A saída da casa onde morei na infância, Fortaleza. Fico de joelho na areia olhando para o lugar, era de dia. As castenheiras que sempre tiveram ainda estão lá e no trevo logo a frente nenhum carro passa. Não havia ninguém em nenhum lugar, completamente silencioso. Então vejo uma pessoa que conheço, Débora, uma ex-colega de turma da UFPA. Por alguma razão eu grito por ela e a chamo de “Denise”, mesmo o nome dela não sendo esse — provavelmente me confundi com o nome da irmã dela. Mais uma coisa estranha, ela tava andando de patins, subindo a rua e parece que não consegue me ouvir. Como não consigo fazer com que ela pare, resolvo correr atrás dela, mas ela começa a ir mais rápido. Quando vejo ela tá entrando num prédio.
Não lembro de existir esse prédio nessa rua. Mas mesmo hesitante resolvi entrar e continuar a seguir ela. O prédio não tem nada no começo além de uma escada espiral em quadrados. Ela começa a subir e eu também. Quando começo a ficar muito próximo dela duas coisas esquisitas acontecem, eu percebo que vejo alguém no começo do prédio vindo atrás de mim, parecia algum tipo de fotógrafo ou reporter, mas com uma atmosfera muito esquisita. Andava com alguns equipamentos no pescoço e com uma roupa toda preta. Fico ansioso e resolvo alcançar Débora mais rápido, então quando a vejo ela está subindo as escadas de joelho! Eu fico muito surpreso porque simplesmente não faz sentido então o sonho começa a ficar turvo e minha visão se apaga.
Quando abro meus olhos estou na minha cama de novo, na mesma posição que dormi, então o sonho acabou. Resolvo sair da cama e ir na sala. Mãe tava servindo algum tipo de janta. Vou abrir a geladeira tem um bucado de doces e brigadeiros, por alguma razão começo a ficar ansioso sobre o que estou vendo. E começo a abrir a fechar a porta da geladeira. Começo a falar alguma coisa pra mãe e ela começa a ficar nervosa, essa parte do sonho não lembro o que acontecia na conversa. Mas quando olho pra geladeira eu vejo duas gatas igual a que tenho, gata Marie, então fecho a porta assustado. Mas aparece três quando abro, fecho de novo e aparece quatro. Faço de novo e aparece cinco. Então eu percebi nessa hora: eu estava alucinando.
Fico eufórico e começo a pensar se ainda estava sonhando, então na busca de uma pista sobre o que está acontecendo, pego todos os brigadeiros e coloco na boca pra observar se consigo sentir o gosto. Mas consigo sentir muito bem o gosto de todos. Fico assustado novamente com aquilo e resolvo sair novamente por uma das portas.
Quando saio, percebo que estou numa zona obscura de Breu Branco perto de um posto. Novamente, não havia ninguém, mas dessa vez era de noite. Há alguns destroços perto do posto, como resto de carros e pneus. Mas não lembrava que existia esse lugar. Começo a andar rápido e percebo algo saindo de um dos destroços. Algo semelhante há um esteriótipo de alienígena, com olhos compridos pretos e pele cinza. Ele começa vir rastejando pela minha direção se deformando. Nessa hora já tava bem assustado com aquilo e começo a correr. Novamente o sonho começa a escurecer e minha visão se apaga.
Acordo novamente na minha cama, no mesmo lugar. Dessa vez entendi que estava realmente dentro de um sonho ainda. Comecei a imaginar a razão porque eu não tava conseguindo acordar e algumas vozes soavam dizendo que eu não iria acordar nunca mais. Penso então que se eu poderia ter entrado em coma por algum acidente. Me levanto e pego um caderno aberto que estava na frente da minha mesa. Começo a folhear ele e sobrescrever por cima tudo que vejo de forma muito rápida. São desenhos geométricos, números e fórmulas matemáticas. Os desenhos são como labirintos em quadrados, os números ficam ligados como um mapa e as fórmulas parecem ser sobre algum modelo de comportamento por tempo. Por alguma razão penso que aquilo deve ter alguma relação com o tempo que eu vou ter que levar pra sair do coma. Mas não entendo porque pensei nisso.
Resolvo sair do quarto, Wanderson e mãe parecem muito preocupados ao olharem pra mim, pensei que fosse pela situação que estamos vivendo. Mas ao conversar com eles era sobre mim. Eles perceberam que eu estava tendo algum tipo de alucinação. Começo a me tremer. Vou abrir a geladeira pra pegar água e então a mãe fala: “Você vai ao neurologista, certo?”. Então tudo fica em silêncio e minha vista começa a escurecer. O sonho acaba novamente.
E, minha nossa, de novo acordo no mesmo lugar! Isso acontece ainda muitas vezes e nem consigo mais contar quantas vezes foram de verdade. Já depois de mais de umas 10 vezes tentando acordar, estou num galpão de madeira arrodeado por uma floresta. Era escuro, estava de noite. Começo a ascender as luzes só com a força do pensamento, já que nesse momento tinha consciência total que tudo era controlado por mim, quando vejo várias pessoas que conheço. Eles começam a dizer: “Você sabe que não somos reais, certo? Você não pode mais se autoenganar. Somos você.”. Então eu digo: “Mas vocês são reais, mesmo sendo eu. Pois vocês fazem parte das minhas memórias! Então eu estou falando comigo mesmo! O que é real.”.
Dito isso, todos eles desaparescem e as luzes também. Começa a soar um sonho muito assustador de ferro ao redor do galpão e começo a correr pela primeira direção que eu vejo, quando então consigo entrar pra um quarto. Fico esperando algo que está me seguindo. Cada vez mais perto, cada vez mais perto e aumentando o barulho. Minha visão novamente começa a esvaecer. Tudo escurece. Mas então eu acordo novamente na cama do meu quarto. Sinto meu corpo pesado e percebo que finalmente estou acordado no mundo real.
Os detalhes podem não parecer tanto assustadores pra você, mas sei lá, a sensação de nunca mais acordar foi horrível. E quantas coisas bizarras sem sentido! Quem vai subir uma escada de joelhos? O que diabos é “Diagrama”? Por qual razão vão querer me levar num neurologista? Aqueles caderno cheio de rascunhos de gente maluca também.
Um último detalhe, assistindo uma série aparentemente derivada de terror, aparece um nome na tela que ficou um pouco marcante: “Eastan”. Fim.