Atenção: este é um conto de ficção, qualquer similaridade com a realidade é mera coincidência.
Prefácio
Estamos em 202X. Já perdemos a conta sobre o número de lockdowns sequenciais. No mundo existe guerra política, ouve-se mentiras e histórias mal contadas nos meios de comunicação o tempo todo que são eventualmente desmascaradas ao longo de poucos dias. Todo ano que se passa, pontualmente, há uma variação do coronavírus que aparece no final do ano e explode no início do próximo ano.
Suponha o seguinte: a pandemia COVID-19 é um plano mundial pra coleta de informações das mais variadas áreas da humanidade. Todos estes acontecimentos foram planejados para que ocorresse uma revolução digital de vez com os programados lockdowns, principalmente nas universidades e no mercado industrial. Desse jeito, uma amostra do conhecimento do mundo muito maior que a anterior é feita.
Eles fizeram o problema, então ofereceram a solução. A coleta de dados é feita através de ferramentas digitais, como Google Meet e Zoom. Ferramentas usadas para dar aulas em universidades e reuniões empresariais, do qual foram recomendadas via parcerias gratuitas com mérito de caridade em momento de epidemia global, mas há uma cláusula: uma porcentagem mínima de usuários da instituição adotada deve gravar o conteúdo das conferências.
Por exemplo, a gravação no Google Meet é armazenada no Google Drive. Através de um tratado oculto, planejado desde 201Y, a China e outros governadores mundiais tem acesso direto aos dados provisionados de armazenamento em cloud… Portanto, possuem acesso a toda base de conhecimento do mundo. Como existe já I.A. suficientemente especialista com reconhecimento de voz e imagens, é possível fazer uma busca tremenda num mar novo de informações.
Dessa maneira, o Google, e os outros sistemas mundiais de busca, tem a maior biblioteca antecipada do estado da arte da ciência, engenharia, produtos e negócios. Pois eles tem acesso a toda informação catalogada automaticamente por inteligência computacional, com busca avançada e tudo mais que tem direito do novo milênio. E o pior: com acesso ao conhecimento de todo global, no ponto de produção, em tempo real! Imagine… o conceito de privacidade é abolido, algo do passado a ser sonhado por muitos. Quem acredita na possibilidade de privacidade nessa época são revolucionários desse sistema de vigilância opressor.
Essa seria chamada… a espionagem suprema, uma versão de 1984 global, a pandemia da espionagem. Ao considerar isto, devo apresentar o professor e um dos protagonistas dessa história, Doutor J. Karamazov, uma grande referência da ciência da computação, que sabiamente decide não gravar suas aulas pois conhece a verdade. Por outro lado, ele não conta isto a ninguém, muito menos a seus alunos. J. Karamazov é um herói indireto dessa história, destinado a revelar a todos a corrupção desse sistema… mesmo sem dizer nenhuma palavra direta a respeito.
Capítulo I: Doutor J. Karamazov e seus alunos
Professor J. Karamazov sempre foi um professor muito atencioso, devidamente cauteloso no que fala e bastante didático. Nas variadas disciplinas que ministrava, sempre foi muito exigente com o nível de aprendizado dos seus alunos e também com uma empatia anormal sobre o entendimento real dos alunos. Por outro lado, por esperar tanto dos seus alunos, facilmente se decepcionava.
De maneira recorrente, o professor questionava se o que falava aos seus alunos fazia sentido, e apenas era necessário um silêncio estranho da turma para ouvir coisas do tipo: "Esse silêncio não é bom. Ou vocês estão entendendo tudo e estão entendiados, ou eu não estou me fazendo entender […] melhor eu clarificar, pois é normal não entender imediatamente, o aprendizado nasce do confronto". Com sua grande empatia ao aprendizado dos alunos, até aqueles mais tímidos que havia desistido de interagir pela opressão de outros professores arrogantes, tomava então coragem para fazer perguntas e pedir mais explicações de Karamazov. A aula era bastante fluída e definitivamente uma das aulas mais legais do semestre, pois sempre havia espaço pra questionamento e aquilo dava uma verdadeira sensação de liberdade de pensamento – como uma universidade deve ser.
Entre os vários professores do corpo docente de computação, J. Karamazov era de longe um dos mais respeitados por outros colegas e principalmente seus alunos. Além do domínio exemplar sobre computação e inteligência artificial, era uma pessoa muito humilde e sincera, entretanto com aparente muitos segredos sobre sua vida pessoal, que a deixava totalmente reservada da sua atuação profissional. Ah, mas sei de algo pessoal, J. Karamazov era fã dos cientistas e escritores russos, especialmente o escritor Fiódor Dostoiévski. Ele até me apresentou um dia a última e maior obra desse autor numa feirinha de livro da universidade! E, óbvio, não pude resistir a sugestão e mesmo sem tempo pra ler eu comprei a única cópia que tinha – algum tempo depois me bateu uma leve culpa, pois este livro era prometido para um professor de filosofia de outra universidade e eu mesmo depois de anos ainda não terminei de ler toda a obra.
Para J. Karamazov o distanciamento social na universidade por conta da pandemiaera terrível, pois como ele era um professor muito atencioso que percebia o desentendimento apenas olhando para os rostos dos seus alunos, esse professor teve uma enorme dificuldade pra manter as aulas via conferências digitais. Afinal… quase nenhum aluno tinha a ousadia de ligar a câmera e provar que estavam focados, prestando atenção na aula, pois muitos estavam na verdade fazendo outra coisa enquanto fingiam estar assistindo aula.
Depois dos primeiros anos, apesar de ir quase a loucura, Dr. Karamazov finalmente conformou-se com a condição de talvez nunca mais dar aula ao vivo para todos seus alunos em sala de aula. A universidade estava propondo como regimento oficial o ensino híbrido: parte presencial, parte remota. Muitos alunos preferiram continuar com as aulas remotas por muitas questões pessoais e financeiras, portanto, o professor precisava continuar usando as ferramentas digitais para aula de todo jeito. Uma delas era o Google Meet.
Mas algo o incomodava… este professor não permitia em hipótese alguma a gravação de suas aulas, uma vez questionado sobre o motivo disse apenas que evitava a gravação para valorizar a sua aula e a atenção: "Se vocês não prestarem atenção agora, não haverá segunda chance, você ouvirá tudo isso apenas uma vez e é agora. Prestem atenção.".
Em contrapartida, havia um motivo medonho por trás dessa decisão… um aluno em especial, M. Laurent, desconfiava e defendia uma hipótese estranha com unhas e dentes, mas era considerado por muitos outros alunos como um lunático, embora fosse um aluno respeitado por J. Karamazov. M. Laurent… era literalmente pirado. Frequentava suas aulas de forma assídua e fazia grandes questionamentos pertinentes aos seus ensinamentos, conseguia gabaritar provas nas disciplinas mais difíceis com J. Karamazov, mas eventualmente tomava umas bombas tão grandes e ridículas que um dia teve que ouvir coisas de seu professor como: "Eu esperava mais de você, M. Laurent.". Isso era de cortar o coração de M. Laurent, mas ele sabia que estava errado e que deveria ao menos ter lido o conteúdo da prova invés de ter ficado livros sobre matemática pura que não tinha nada a ver com a disciplina.
E esta era a maneira de J. Karamazov educar seus alunos: "Vocês, meus alunos, podem e devem ser muito mais.". Penso que o professor poderia imaginar algo assim ao repreender seus alunos com a mão da decepção invés de o punho da arrogância.
Capítulo 2: A Grande Conspiração de Laurent durante a Pandemia
To be continued…